Thursday, June 05, 2008

Go, Speed Racer, Go!

Quando sai da sessão de Transformers, aproximadamente um ano atrás, tinha uma certeza: era o filme mais empolgante que já havia assistido. Havia humor, efeitos especiais incríveis, ação alucinante, mulheres com roupas decotadas... Tudo aquilo que só um blockbuster hollywoodiano pode oferecer. Cheguei a chamá-lo de "o melhor filme do mundo" tamanha empolgação! Esperava isso das terceiras partes de Homem-Aranha e Piratas do Caribe, mas foi em Transformers que encontrei, um filme de que, a julgar pelos trailers, não esperava muita coisa.

Ontem, em uma decisão corajosa, fui ao cinema assistir Speed Racer no lugar dos fantásticos 3 X 1 do Fluminense sobre o Boca e do Corinthians sobre o Sport. Não existe em mim um pingo sequer de arrependimento. Repito feliz e com empolgação semelhante a de 2007, se não superior: é o filme mais empolgante que já assisti.



Speed Racer é, dos créditos iniciais aos finais, uma imensa paleta de cores transformada em película. Se nos trailers elas me incomodaram, no filme elas se encaixaram perfeitamente. Fantástico, tudo parece ter saído diretamente de um painel de neon. Tudo brilha, acende, pisca, sem medo algum de abusar. Cores primárias, céu cyan no lugar do anil, grama verde puro, vermelhos como só os colorbars são capazes de apresentar. O que Robert Rodriguez fez com o contraste preto e branco em Sin City, Andy e Larry Wachowski fizeram com a saturação das cores em Speed Racer. Absolutamente luminoso!

Mas não fica só nisso. Não é puro visual e ação, como em Transformers. Existe uma ousadia cinematográfica por traz, um jogo divertidíssimo com conceitos clássico da teoria do cinema e uma utilização extremamente criativa de cortinas e fundo verde que faz Speed Racer ter algo a mais. A apresentação dos personagens, logo na primeira cena, é construída de maneira fantástica. Speed correndo contra o fantasma de seu irmão Rex, morto em uma corrida, literalmente, como em um videogame, ao mesmo tempo em que um jogo de flashbacks, integrado perfeitamente pelas locuções dos narradores, mostra a forte ligação entre os dois e as circunstâncias da morte de Rex. Em outra, dois personagens dialogam solitariamente lado a lado, ambos olhando para a linha de produção de carros a frente, enquanto a câmera apresenta diferentes posições do rosto em uma séria de cortinas, ignorando de maneira divertidíssima o clássico conceito de eixo. Cinema pensado, não mera aplicação de formulas.



A trilha e os efeitos sonoros também são geniais. Inspirada no tema original da séria, a trilha é perfeita. Empolgante nas cenas de ação, dramática quando necessária, mas sempre sem sublinhar nada. Não dá dicas ao expectador de como este deve se sentir diante das cenas que assiste. Não se sobrepõem às imagens nem é deixada em segundo plano. Os efeitos são extremamente sutis, explosões soam como explosões, carros batendo soam como carros batendo, derrapagens com derrapagens. Tudo perfeito dentro do universo caleidoscópico do filme.

Gostaria de deixar claro o quão incrivelmente enganado eu estava sobre esse filme, a julgar pelo trailer e pela arte dos cartazes, e fico extremamente feliz em admitir isso. A história se amarra perfeitamente, os atores acreditam nos papéis cartunescos que encarnam, até mesmo o macaco não faz o filme ficar ridículo. Direção de arte e direção geral ousados, adaptação inteligente, efeitos audiovisuais perfeitos e completamente integrados. Speed Racer é técnica e poéticamente perfeito. Certamente um dos melhores filmes que assisti este ano.