(A benção, Marx) Desde o surgimento da mais-valia nos idos primórdios das sociedades, notando o constante aumento populacional da Era de Pisces, e passando pelas distintas e demasiadas guerras humanas, a tecnologia está aliada ao sujeito. Mas muito antes disso, quando Prometheus presenteou os homens com o fogo e a noite foi desvirginada, o Homo Sapiens já sedia lugar ao Homo Ludens. Quanto mais garantida se tornava a vida, por engenhosidades tecnológicas, mais liberta a humanidade se sentia para aproximar-se do extraterreno pelos meios lúdicos da prece, da representação, da música, da dança e do esporte. Distinguir a evolução cultural da evolução econômica não é uma tarefa impossível, mas sim a mais estéril.
No início do século XX, os Estados Unidos da América já roubavam o brilho do eurocentrismo, principalmente por meio do cinema, que se tornara uma indústria de fascínio ideológico . EUA e Inglaterra, os rebentos prodígios da revolução industrial, já viviam os tempos modernos (vide Chaplin) de rapidez, movimentação e fluxo. Os habitantes das grandes cidades retomam o seio da família como lugar seguro, diante do crescente estranhamento com o ambiente urbano hostil . Essa afetação narcisista desenvolve uma demanda pela privatização de recursos de manutenção da vida . Em tempos como esse é que a geladeira e o rádio foram trazidos para dentro da residência doméstica. E da mesma forma o broadcasting, uma nova forma de difusão de informação, poderosa no controle e integração social das massas e na supressão de demandas de lazer e informação sem sair de casa.
Em paralelo, acontece o desenvolvimento tecnológico do sistema de televisão que pode remeter até antes mesmo da primeira exibição cinematográfica . Filha de centenas de patentes, a televisão já até teve uma irmã mecânica conforme proposta por Paul Nipkow e levada a sério por John Baird, mas chegou ao seu estado mais definido como conhecemos, quando em 1932, Vladimir Zworykin patenteou um sistema elétrico completo de televisão . A disputa entre os dois sistemas foi até levada aos tribunais ingleses em 1936 numa disputa comercial entre Baird e a Marconi-EMI. A imagem eletrônica venceu essa disputa facilmente diante da obviamente arcaica TV mecânica.
Mesmo institucionalizada e transmitindo, pode-se dizer que nunca houve consenso entre o caráter público e privado das transmissões. A facilmente notável que o meio televisivo é o que menos se importa com uma necessária filtragem daquilo que transmite. Por meio do esgotamento de certos gêneros e repetição – explícita ou subliminar – de pontos de vista parciais, a televisão costuma extinguir os processos de argumento. Como julgar a responsabilidade social e a ética de uma transmissão, sendo aberta ou fechada, de emissora pública ou privada? O telespectador, esse novo sujeito, bem acomodado ao parasitismo receptor, deixa essa tarefa a órgãos reguladores que muito fragilmente podem estar sujeitos às políticas de ideologia e censura do estado, como no exemplo estadunidense da Federal Communications Commission agindo sobre a liberdade das emissoras com forte influência do governo Nixon (1972-73) .
Grande desse parasitismo se deve a um novo ritmo visual e orgânico presente das transmissões televisivas. Mesmo a sociedade estando acostumada ao mosaico imagético que existe nas ruas das cidades, nas vitrines ou nas páginas dos jornais, a televisão apresenta uma característica própria, que podemos chamar de fluxo emprestando o termo de Raymond Williams. Se ainda hoje chamamos alguma unidade televisiva de “programa” é por mera homenagem ao que um dia foi um formato de evento temporário e isolado, como pede o sentido da palavra, originalmente usada nas peças de teatro, ópera, concertos. Em nada se parecem tais eventos com a atual transmissão de TV. No começo, as primeiras emissoras ainda se preocuparam com o sentido original de um programa, com intervalos naturais de suspensão no conteúdo principal. Mas aos poucos, esses intervalos ganharam conteúdos tão importantes quanto o “programa principal”.
Atualmente podemos estar em frente à TV com centenas de canais que transmitem eternamente. Cada canal com seu mosaico característico com logotipos, faixas, camadas de vídeo, e etc. Cada mosaico inserido num fluxo próprio à emissora com os programas gravados, os comerciais, as chamadas de outros programas, e inserções ao vivo. Cada um desses fluxos é apenas uma possibilidade numa gama extensa controlada por um controle remoto. O zapear é a evolução do fluxo, no âmbito do infinito. E essa arapuca não é um luxo acidental, mas uma tecnologia aplicada sobre demandas da sociedade capitalista informatizada. Talvez um presente do moderno Prometheus para opticamente desvirginar pulsões do inconsciente (a benção, Freud).
Sunday, April 05, 2009
അര്ഖ്ിറെടുര ഇ റെച്നോലോഗിയ Televisiva
Posted by
André Outr
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10:09 AM
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Labels: Chaplin, Era de Pisces, FCC, Freud, Homo Ludens, Marx, Prometheus, Televisão