Friday, January 18, 2008

Reconstruction

O filme é Reconstruction, do dinamarquês Christoffer Boe, de 2003. Não sei exatamente o que escrever sobre ele, mas tenho certeza de que alguma coisa precisa ser escrita. Começa com um ilusionista brincando de levitar o seu cigarro. Ele nos apresenta, nos dá alguma pista, alguma dica, de como encarar o que está para ser visto:


"É assim que sempre termina, um pouco de magia, um pouco de fumaça no ar. Algo flutuando. Mas não funciona sem um empurrão necessário. Um pouco de risadas, um homem, uma mulher bonita. E Amor. Vamos remcoeçar. No começo, um homem sozinho, não, ele não está sozinho, ainda. Esse é o primeiro passo, o homem. Logo vêm as risadas, a mulher e o amor. (...) É só um filme, é tudo construção, mesmo assim dói."







Se você tem a chance ou a intenção de ver este filme, sugiro parar de ler por aqui: o que vou escrever adiante pode atrapalhar um pouco a sua experiência. Eu não gostaria de ter lido isso antes de assistir o filme.


São dados a conhecer logo no inicio os quatro personagens principais desta trama, Auguste, um escritor rico e famoso, que se apresenta como narrador do filme, Aimée, sua bela esposa, Alex, um fotógrafo, e Simone, sua namorada - "eles não são casados", diz o escritor ao apresentá-los -. Auguste está criando um novo livro onde Alex e Aimée se apaixonarão. "Já sei como eles vão se conhecer", ele a diz.


O que parece é que vemos algumas vezes o casal se conhecendo e se apaixonando, como versões do manuscrito de Auguste. Só que em uma das alterações, como numa vingança do escritor pela traição da sua amada, Alex, o personagem, não se esquece da versão anterior. Ele procura amigos, família, namorada, ninguém tem a menor lembrança de quem ele é, nem mesmo o seu apartamento existe.


As camadas de realidades, escritor, ficção, personagens, se misturam magicamente, e com muita beleza. A frieza de Kopenhagen e o calorzinho de um café, algumas sequências fantásticas de imagens sobrepostas e carregadas de efeitos de montagem e tempo, diálogos de uma passagem perfeitamente conectados com imagens de outra, e uma única cena de sexo feita magnificamente em uma sequência de stills, alternando com imagens em movimento.


É um filme de amor, de fantasia, de ficção, que explora os limites da construção fílmica e narrativa, da construção de universos e do drama de um personagem que precisa se reconhecer como tal para realizar o seu ser, as suas paixões e o seu sofrimento. É só filme, é tudo construção, mas mesmo assim dói.


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