Monday, March 31, 2008

Espectador-No-Texto: Respondendo a comentário

No post abaixo, Fanny colocou em questão o posicionamento do espectador no lugar Emma Bovary, no filme do Chabrol. Acho que o ponto central do comentário é o seguinte:

Acho que, de fato, acompanhamos de perto as sensações dela, mas permanecemos na posição de julgamento, um pouco externos, alheios ao que ela sente. Julgando seus passos. A camera vai um pouco distante, e a vemos constantemente como se estivessemos um degrau acima dela.
Fanny, você pode ter razão, mas acho que deixei mal explicado o conceito de Espectador-no-texto de Browne. Pode parecer controverso, mas acredito que as questões de posicionamento de câmera circunscrevem a autoridade narrativa do texto e não a nossa identificação. Em alguns filmes a autoridade narrativa é deslocada para um ou mais personagens, para disfarçar a figura do diretor. Chabrol não faz grande uso disso, em minha opinião. A nossa identificação é com algum personagem que vê as circunstâncias desenroladas assim como nós, e reage a elas psiquicamente. É aí que eu acho que está nossa identificação com Emma.

Talvez, por este ser um personagem já tão famoso e que já foi tão julgado, a posição de julgamento pode caber, mas não foi o que eu, que não li o romance e sabia pouco sobre o bovarismo, senti vendo o filme.

Fique à vontade para falar mais!





4 comments:

Anonymous said...

Olá Henrique!
Achei isso muito interessante:
"Em alguns filmes a autoridade narrativa é deslocada para um ou mais personagens, para disfarçar a figura do diretor. Chabrol não faz grande uso disso, em minha opinião. A nossa identificação é com algum personagem que vê as circunstâncias desenroladas assim como nós, e reage a elas psiquicamente".

Mas assistindo, também infelizmente sem ler o romance, fiquei com a impressão de me identificar com o próprio e indisfarsável Chabrol, não com a Emma. De qualquer maneira, acho que seria muito bom rever o filme.

Um abraço!!!

Anonymous said...

Também penso que julgamento não é explícito, mas está na lógica do filme. Ele expõe a personagem com o interesse e o rigor de fisiologista, de um estudioso.Busca sintomas! Esses sintomas são destacados pelo próprio Chabrol e identificados por nós, como observadores. Por isso acho que nos mantemos distantes.

e, por fim, acho que podemos estar falando de coisas diferentes... =]

inté!

Henrique Cartaxo said...

Fanny,

Essa é mais curtinha, dá pra responder aqui dentro:

Isso é menos racional do que pode parecer, mas acho difícil que você possa se identificar com o diretor (com o olhar da câmera), que é onisciente, onipresente, vê tudo de cima, como um deus...

Me identifico com Emma na condição de objeto de julgamento de um outro.

Unknown said...

Não acho que a gente se identifica com o diretor, mas que ocupamos a mesma posição que ele, ou seja, acompanhamos oniscientes a trajetória da Emma.

Mas enfim, reforço o que eu disse no outro comentário. Vou rever o filme, e quando isso for possível, pensar sobre o que você escreveu. No momento, essa é a impressão que eu tenho.

abr.