Tuesday, April 15, 2008

Transpondo o debate

Há um tempo tivemos (várias pessoas do blog, e tantos outros amigos) um longo debate travado ao vivo, por comunidade do orkut e por e-mail sobre arte, filmes bons e outras coisas que amamos. O debate foi -está sendo - muito proveitoso e achei prudente trazê-la pra cá. São poucas idéias conlusivas mas muitas intuições e propostas que, se rolar compartilhar com mais gente, que opine em cima e tal, será muito sadio.

Começamos pensando em como classificar um filme como bom ou ruim, e se é possível estabelecer tais diferenças e apartir de onde. Aonde entra o gosto nisso? Eu não gostar de algo que reconheça como sendo bom, é possível? Viagem... mas acho legal. O bom e o ruim seriam então características do objeto em si, ou da relação espectador e objeto?

A grande obra de arte ela necessita de repertório cultural ou é "grande" em si, independendo de backgrounds? No nível da especulação me pergunto se um indivíduo hipotético sem nenhuma cultura audiovisual assistir a um filme que eu considero tremendo, uma das grandes criações da humanidade, como "Noites de Cabiria" qual será a relação estabelecida com a obra? Tudo aquilo que achei tremendo persisitirá? Eu quero acreditar que sim.

Para concluir, e deixar o meu ponto de vista até aqui claro coloco um trecho de algo que escrevi em uma das discussões e que de fato resume o que tem me instigado.

Tentando ser mais claro - to confuso, sou confuso e o tema é confuso - creio que uma grande obra consegue ser excelentemente bem apreciada, e que as conclusões, a chegada às, sei lá, "camadas complexas de significações" é viável a alguém cujo repertório seja hipoteticamente nulo. A apreciação/compreensão existe plenamente naquele que como foi dito vai ao cinema para "curtir" e não está preocupado em "formar/definir/encontrar seu gosto". A grande apreciação da obra, a grande obra independe do domínio de referências - ou mesmo de uma pós-teorização - e de contextos, embora assuma que estes últimos ressignifiquem o objeto. Essa é uma visão minha que é muito ideal, é um idealismo cuja verdade factual pode perfeitamente destrui-lo e tenho plena consciência disso.


1 comment:

Henrique Cartaxo said...

Bom, eu também estava nessa discussão do orkut.

O que eu penso atualmente, que também foi influenciado pela tal discussão, é que existem camadas de apreciação para toda obra. Há aquelas camadas imediatamente acessíveis, que todo o grande público consegue apreender, e há também aquelas mais profundas, que estão reservadas àqueles com um certo repertório imagético, cultural e cinematográfico.

Não quero dizer com isso que as camadas mais profundas estão acessíveis apenas a uma elite intelectual academicista e burguesa e tampouco que esta apreciação é equivalente a estabelecer relações com outros textos, identificar influências, etc... Me refiro apenas à capacidade de ser tocado por certos elementos que não estão imediatos.

Concordo que existem filmes com uma densidade sensível tremenda e que são plenamente acessíveis: são estas as grandes obras que imortalizam a arte, como Noites de Cabíria, que você citou. Mas não se deve suprimir valor de uma obra que só é acessível a um certo público muito específico. E não falo somente, por exemplo, dos trabalhos recentes do Godard, que são feitos para intelectuais, mas, também, invertendo o quadro, para por exemplo Narradores de Javé, que pode ser visto pelos sociólogos franceses com aquele ar blasé de quem está vendo um país subdesenvolvido, mas que para quem é do nordeste e convive com todo o imaginário da seca, e com a ameaça do "sertão virar mar" adquire um sentido totalmente diferente.