Monday, January 28, 2008

If life were only like this...

Sylvia Colombo publicou uma crítica ao filme "Meu nome não é johnny" que vem dando o que falar. Mas só que falar mesmo porque o texto da senhora é de uma pequenez intelectual de dar nojo, foi assistir ao filme lotada de parâmetros e regras e como o filme não se encaixou nessas predisposições da jornalistas ela decide atirar pra todo lado. Diria o professor Mauricius Farina: jornalismo é uma faculdade ótima né, você estuda 4 anos e sai sabendo tudo de culinária, cinema, política, economia, etc.   

Ela já começa o texto escrotizando: A pior produção do cinema brasileiro desde a fraude de "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", "Meu Nome Não É Johnny" atingiu nesta semana 1 milhão de espectadores no Brasil. (...) Era de se esperar pelo menos um pouco mais de rigor crítico por parte das platéias. O público é então um bando de ignorantes que precisam ser iluminados pela grandiosa sabedoria de intelectuais como Sylvia e seus colegas de "Ilustrada". Os faróis da cultura basileira. 

Na visão dela, Mauro Lima teria apenas plagiados diversos filmes, e diretores: Tarantino, Beto Brant, Hector Babenco e outros entram nessa lista. Poderia ser um caminho de análise mas não se sustenta.  A certa altura, há um diálogo, conversa fiada, entre dois personagens que confundem Tarcísio Meira e Francisco Cuoco. Seria gracioso se não fosse uma verdadeira cópia de um recurso usado por Tarantino _sacar fantasmas do esquecimento e transformá-los em referência cult. Decretou-se: a partir de agora qulquer um que se referir a atores antigos são plagiadores de Tarantino. Absurdo. Além disso é necessário um exercício de abstração bastante grande em estabelecer paralelos culturais Brasil-Eua e mesmo feito isso colocar os dois "globais" num universo que se relaciona com o de referências de Tarantino não tem nada a ver. Tarantino não quer tornar pessoas que estão esquecidas novamente famosas para torná-las ícones cults ou o que quer que seja, mas porque fazem parte de um universo muito caro a ele. Um universo de filmes b, popularescos, blaxploitations, slascher movies etc., universo este oposto aos dos galãs Tarcísio Meira e Francisco Cuoco.

Sylvia foi querendo ver um filme ruim e acabou, dentro de sua cabeça, tendo um filme ruim. Queria uma coisa esquemática mas não teve. Acusa o filme de um moralismo, mas ele não existe. Apesar do marketing do filme vender a idéia de uma conscientização isso é  uma estratégia de venda do produto e que por bem não se verifica na obra. João não se "perde" nas drogas , ele se diverte com ela, ele vive com elas e tem uma grande curtição. 

Há uma crítica pelo lado de Sylvia a respeito do roteiro ser "arrastado" e alguns disseram também de suas "barrigas" ou "buracos" narrativos. Diante dessas críticas fico pensando o que diriam sobre os filmes do Rohmer, deve ser o ápice do que consideram buracos narrativos (se bem que Rohmer é cult, francês e tal... Enfim...). Em "Meu nome..." grande parte do filme é dedicada a jovens cheirando cocaína, e só. E isso é fantástico porque é a sensação do personagem, de quem é João. Claro, tavez os "sábios" quisessem algo mais "rico" dentro dessa trama, de repente crise com a mulher, policiais batendo, crises morais, sei lá, mas não, isso não cabe no personagem. O barato do filme está justamente no fato de, na vida de João, tudo se resumir à droga. Não cabia mais nada e aquilo é o suficiente. É interessante um personagem onde a cocaina é presente 24 horas por dia e ele não é um assassino, nem alguém sem cérebro, nem morre tragicamente. Pelo contrário, se diverte.

Ficou claro o que está em jogo aqui, não? Uma crítica que decide falar "poucas e boas" de um filme simplesmente porque ele não atendeu às suas expectativas. Não é dada sequer chance ao filme de se explicar, dizer a que veio, não. É quase uma militância "não foi desse jeito não presta". O intelectual se põe, então, no Olimpo da cultura onde ele é mil vezes superior à obra. Um autoritarismo muito típico dos nossos tempos. 




Para um texo desses a melhor coisa, realmente, é rever a diálogo de Annie Hall (noivo neurótico, noiva nervosa) que parece ser referência para Sylvia Colombo. Infelizmente não achei o trecho com legendas ou dublado em português.

If life were only like this...
cae


Friday, January 25, 2008

Gangsters

Holywood tem algumas fixações, isto faz parte de uma certa obsessão da cultura norte-americana por explicar a si própria e ao seu país. Por isso fazem sucesso tantos filmes patrióticos, épicos e históricos, guerra, política, questões étnicas e uma das grandes fontes de filmes maravilhosos: gangsters. Talvez pelo drible de um sistema e de uma sociedade suspostamente tão consistente, a máfia é uma alternativa ao (e ao mesmo tempo uma parte do) American Dream.


Agora vejam isso:
Notam uma certa semelhança? Com algumas mudanças no estilo que 25 anos de distância tornam inevitáveis, o que primeiro nos grita é a composição do preto-branco, depois os detalhes vermelhos e enfim a prova irrefutável de que isso passa longe de uma coincidência: arma na mão direita, mão esquerda fechada, cabeça virada para a esquerda.

Então, depois dos italianos, cubanos, irlandeses e chineses, os negros ganharam o seu filme de máfia. E este filme lança este cartaz para dizer "Olha, eu quero American Gangster ao lado de Scarface e eu não vou ter vergonha disso. E também The Godfather, The Departed e outros." E talvez Ridley Scott, responsável por este novo gangster e por alguns outros blockbusters notáveis desta época, esteja dizendo que quer se sentar com Brian de Palma, Coppola, Scorsese, quem sabe?

Curioso?

É, essa coisa toda contém em si milhares de incongruências, mas sinceramente eu não estou interessado nelas no momento. Se alguém quiser discutí-las, fique à vontade. Mas aqui vai um pequeno teaser: Em Scarface, Al Pacino lidera a máfia dos imigrantes latinos nos EUA e a primeiríssima cena de American Gangster mostra Frank Lucas (Denzel Washington) literalmente incendiando um latino que provavelmente fez besteira no crime. Falo mais do filme depois que assistir mais uma vez.


Friday, January 18, 2008

Reconstruction

O filme é Reconstruction, do dinamarquês Christoffer Boe, de 2003. Não sei exatamente o que escrever sobre ele, mas tenho certeza de que alguma coisa precisa ser escrita. Começa com um ilusionista brincando de levitar o seu cigarro. Ele nos apresenta, nos dá alguma pista, alguma dica, de como encarar o que está para ser visto:


"É assim que sempre termina, um pouco de magia, um pouco de fumaça no ar. Algo flutuando. Mas não funciona sem um empurrão necessário. Um pouco de risadas, um homem, uma mulher bonita. E Amor. Vamos remcoeçar. No começo, um homem sozinho, não, ele não está sozinho, ainda. Esse é o primeiro passo, o homem. Logo vêm as risadas, a mulher e o amor. (...) É só um filme, é tudo construção, mesmo assim dói."







Se você tem a chance ou a intenção de ver este filme, sugiro parar de ler por aqui: o que vou escrever adiante pode atrapalhar um pouco a sua experiência. Eu não gostaria de ter lido isso antes de assistir o filme.


São dados a conhecer logo no inicio os quatro personagens principais desta trama, Auguste, um escritor rico e famoso, que se apresenta como narrador do filme, Aimée, sua bela esposa, Alex, um fotógrafo, e Simone, sua namorada - "eles não são casados", diz o escritor ao apresentá-los -. Auguste está criando um novo livro onde Alex e Aimée se apaixonarão. "Já sei como eles vão se conhecer", ele a diz.


O que parece é que vemos algumas vezes o casal se conhecendo e se apaixonando, como versões do manuscrito de Auguste. Só que em uma das alterações, como numa vingança do escritor pela traição da sua amada, Alex, o personagem, não se esquece da versão anterior. Ele procura amigos, família, namorada, ninguém tem a menor lembrança de quem ele é, nem mesmo o seu apartamento existe.


As camadas de realidades, escritor, ficção, personagens, se misturam magicamente, e com muita beleza. A frieza de Kopenhagen e o calorzinho de um café, algumas sequências fantásticas de imagens sobrepostas e carregadas de efeitos de montagem e tempo, diálogos de uma passagem perfeitamente conectados com imagens de outra, e uma única cena de sexo feita magnificamente em uma sequência de stills, alternando com imagens em movimento.


É um filme de amor, de fantasia, de ficção, que explora os limites da construção fílmica e narrativa, da construção de universos e do drama de um personagem que precisa se reconhecer como tal para realizar o seu ser, as suas paixões e o seu sofrimento. É só filme, é tudo construção, mas mesmo assim dói.


Friday, January 04, 2008

Vale tudo: o som e a fúria de Tim Maia

Ao longo do tempo tive a oportunidade de ler apenas 3 biografias. Feliz ano velho, de Marcelo Rubens Paiva, quando ainda estava na oitava série; Tolkien: uma biografia, de Michael White, por volta de 2002, quando a febre de O Senhor dos Anéis tomou conta de mim e cheguei até a aprender élfico; e Vale tudo: o som e a fúria de Tim Maia, de Nelson Motta, que ganhei de amigo secreto neste Natal e terminei de ler há pouco. Gostei de todas, mas a de Tim me tocou mais, talvez por já ser grande fã de seus discos e suas histórias.

Marcelo Tas, em um de seus últimos post de 2007 (blogdotas.com.br) comentou o livro. Postou também dois vídeos, um acima e outro abaixo do texto, que reproduzo abaixo. Os vídeos podem ser vistos no post original clicando aqui.

Li entre o panetone do Natal e o pré-reveilon a maravilhosa biografia do mestre da black music brasileira, o inventor do samba-soul, grande filósofo popular da Zona Norte carioca, escrita por Nelson Motta. Se fosse você, não entrava em zero oito sem ele, o síndico Tim Maia.

Lá você vai conhecer um pouco mais do Brasil de verdade, aquele do mercado paralelo, e da história do mito e de cada uma das figuras que ele grita no meio das músicas, como Paulinho e Chumbinho, nessa gravação do Ensaio, da TV Cultura. Parabéns, Nelsinho, outro golaçao!

Aqui abaixo, mais uma palhinha do Tim no YouTube.

Concordo. O livro é muito bom. Tim era não só um cantor fantástico, como também uma figura única. E o livro retrata isso muito bem. Conta sua vida desde pequeno, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde cresceu e ensinou Erasmo, Roberto Carlos e Jorge Ben a tocar violão. Sua ida aos EUA e sua volta deportado. Sua luta para entrar no mercado musical brasileiro. As histórias hilariantes dos grandes porres de maconha, pó e whisk, que ele costumava chamar de Triatlon e que quase sempre o faziam se atrasar ou até mesmo faltar a shows. Segue toda a trajetória até sua morte em 1998, aos 55 anos. No entanto, mesmo tendo adorado cada loucura que Tim cometeu e que Nelson Motta contou, terminei o livro com a sensação de que foi lançado as pressas, sem uma última revisão.

***

No decorrer do livro Nelson Motta utiliza um recurso estilístico interessante para tentar reproduzir as falas de Tim, que muitas vezes chamava as pessoas por nome e sobrenome. Abaixo, um trecho que ilustra tal recurso:

""Ô Tibériogaspar, ele colocou os convidados dele na primeira filha, todo mundo bonito, perfume francês, dentes lindos, maravilhosos, cascata de camarão, champanhe e o caralho a quatro. E o meu pessoal ele botou lá atrás, perto da cozinha, tomando cerveja quente. Eu achei isso uma sacanagem e vou à forra, esse filho-da-puta vai me pagar. Vai no sábado."". (p.224-225).

Quatro parágrafos acima Tim convidou Tibério para seu show, mas avisou:

""Tibério Gaspar, eu vou estrear lá no Scala e você está convidado. Mas não vai no dia da estréia não, porque os convites que o Recarey me deu são para a minha família, que é enorme. Você vai na sexta, tá?"". (p.224).

Bem, com os acontecimentos da estréia, Tim, não foi ao show da sexta para se vingar, por isso mudou o convite de Tibério. No sábado, Recarey, dono do Scala, foi obrigado a dividir, junto com de com seus convidados finos e elegantes, a primeira fila com os convidados de Tim, que "havia distribuído seus convites entre faxineiros, garagistas, mendigos e flanelinhas que encontrara na vizinhança do Scala". (p.226).

Nessa história curta do livro o recurso estilístico de unir nome ao sobrenome sem a letra maiúscula no início do último é esquecido. E este não é o único caso. Em outras vezes, tanto antes quanto depois desse trecho, a mesma coisa ocorre e a fala de Tim é modificada. O que me levou a questionar se estas mudanças são propositais, com a fala de Tim realmente se modificando por algum motivo emocional ou algo do gênero, ou se foi uma deslize da revisão. Acredito mais na segunda opção, já que com esse recurso as falas ficam muito mais Timaiadas.

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Outros deslizes também parecem ter passado:

"E ficou mais feliz ainda, em 1992, quando Marisa Monte lançou uma sensacional gravação de "Não quero dinheiro" e a transformou em um dos grandes sucessos do ano. Na verdade, nem era uma faixa do disco, e sim um trecho do DVD ao vivo de Marisa, que virou um espetacular sucesso de rádio." (p.312).

"No dia 8 de março de 1988, Tim sai do palco e não volta mais. Desta vez, o show não pôde continuar." (p.389).

No caso do primeiro trecho me estranha o fato de em 92 já existir um DVD da Marisa Monte. Não sei se a informação procede, mas me parece que essa tecnologia não estava disponível na época. Posso estar errado... O segundo é a legenda da última foto do livro, com Tim de cabeça abaixada e as duas mãos unidas, como que agradecendo o público (Lembram do Miguel Falabela no final do Video Show? Então, igual.). Seguindo a data apresentada no texto julgo que a foto seja de 88, de um show no dia 8 de março. Por coincidência Tim viria a passar mal, e morrer 7 dias após, justamente em um show uma década depois, no mesmo dia. Caso não seja uma coincidência trata-se de um erro e a data real seria 1998. Acredito mais na segunda possibilidade, já que a foto fecha o livro. Provavelmente a foto era de 88 e as datas foram confundidas quando a legenda foi escrita.

Outro fato que chama atenção no livro está em um trecho que só fui capaz de relocalizar graças a um usuário do Orkut:

Na volta de Brasília, Tim avisou que iriam para Atibaia, no litoral paulista, de carro, para um show no sábado e outro no domingo.” (p.327).

Novamente pode ser que eu esteja errado, mas Atibaia está a no mínimo 88 km do litoral paulista, em linha reta. Mais precisamente da cidade de Cubatão. Bom, Atibaia pode também ser o nome de uma praia muito da chique no litoral paulista, ou mesmo uma bem popular, que eu desconheço...

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Além dos eventuais deslizes de revisão, minha única crítica real ou conteúdo de fato do livro fica por conta da falta de clareza em torno de determinados assuntos. Em especial a crítica constante de Tim Maia a TV Globo. Ele sempre mete o pau, mas o porquê não é apresentado. Sim, sabemos que a Globo tem muito poder e é capaz de fazer quem quiser um tremendo sucesso, o Nelson Motta fala isso no livro, de uma forma ou de outra, mas senti falta de mais argumentos nesse sentido. Fica parecendo que o Tim falava só por falar em determinadas partes. As vezes era isso mesmo, vai saber?!

Exitem também certas confusões quanto as datas no decorrer da narrativa, principalmente quando o Prêmio Sharp era tratado. Não dava pra entender se foi só um, dois, três... Se o discurso de um capítulo é a continuação do outro, no capítulo anterior. E esses problemas de estruturação da narrativa me parecem mais evidentes no final do livro, do terceiro quarto pra frente, digamos. Uma certa pressa em contar as coisas que pode ter deixado tudo mais confuso e com menos claro. Mas como eu li muita coisa de madrugada, pode ter sido vista cansada mesmo...

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Problemas a parte, o livro é muito bom, não por sua qualidade literária, mas pela vida alucinada que Tim levou em pouco mais 30 anos de carreira(s). Bebeu muito, fumou muitíssimo, cheirou toneladas e foi um dos melhores clientes das prostitutas cariocas. Não compareceu a shows; ou compareceu e não estava em condições de cantar nada; ou estava em condições e não cantou porque uma "Dona Maria" pediu para ele parar de reclamar do som e cantar logo e ouviu que se quisesse ouvir ele cantar que comprasse seu disco, e saiu do palco; ou compareceu e fez shows memoráveis, engraçados e com um som impecável. Mas o que o livro mais deixa é uma vontade louca de ter feito parte dessa história. Seja pagando para não assistir um de seus shows ou participando de um de seus Triatlons. No entanto, caso queira comprar, espere a segunda edição, devidamente revisada...