No post abaixo, Fanny colocou em questão o posicionamento do espectador no lugar Emma Bovary, no filme do Chabrol. Acho que o ponto central do comentário é o seguinte:Acho que, de fato, acompanhamos de perto as sensações dela, mas permanecemos na posição de julgamento, um pouco externos, alheios ao que ela sente. Julgando seus passos. A camera vai um pouco distante, e a vemos constantemente como se estivessemos um degrau acima dela.
Fanny, você pode ter razão, mas acho que deixei mal explicado o conceito de Espectador-no-texto de Browne. Pode parecer controverso, mas acredito que as questões de posicionamento de câmera circunscrevem a autoridade narrativa do texto e não a nossa identificação. Em alguns filmes a autoridade narrativa é deslocada para um ou mais personagens, para disfarçar a figura do diretor. Chabrol não faz grande uso disso, em minha opinião. A nossa identificação é com algum personagem que vê as circunstâncias desenroladas assim como nós, e reage a elas psiquicamente. É aí que eu acho que está nossa identificação com Emma.
Talvez, por este ser um personagem já tão famoso e que já foi tão julgado, a posição de julgamento pode caber, mas não foi o que eu, que não li o romance e sabia pouco sobre o bovarismo, senti vendo o filme.
Fique à vontade para falar mais!
Monday, March 31, 2008
Espectador-No-Texto: Respondendo a comentário
Posted by Henrique Cartaxo at 2:50 PM
Labels: análise comparativa, Bovary, Chabrol, cinema, espectador, Flaubert, história do cinema, Minelli, Nick Browne, teoria do cinema
4 comments:
Olá Henrique!
Achei isso muito interessante:
"Em alguns filmes a autoridade narrativa é deslocada para um ou mais personagens, para disfarçar a figura do diretor. Chabrol não faz grande uso disso, em minha opinião. A nossa identificação é com algum personagem que vê as circunstâncias desenroladas assim como nós, e reage a elas psiquicamente".
Mas assistindo, também infelizmente sem ler o romance, fiquei com a impressão de me identificar com o próprio e indisfarsável Chabrol, não com a Emma. De qualquer maneira, acho que seria muito bom rever o filme.
Um abraço!!!
Também penso que julgamento não é explícito, mas está na lógica do filme. Ele expõe a personagem com o interesse e o rigor de fisiologista, de um estudioso.Busca sintomas! Esses sintomas são destacados pelo próprio Chabrol e identificados por nós, como observadores. Por isso acho que nos mantemos distantes.
e, por fim, acho que podemos estar falando de coisas diferentes... =]
inté!
Fanny,
Essa é mais curtinha, dá pra responder aqui dentro:
Isso é menos racional do que pode parecer, mas acho difícil que você possa se identificar com o diretor (com o olhar da câmera), que é onisciente, onipresente, vê tudo de cima, como um deus...
Me identifico com Emma na condição de objeto de julgamento de um outro.
Não acho que a gente se identifica com o diretor, mas que ocupamos a mesma posição que ele, ou seja, acompanhamos oniscientes a trajetória da Emma.
Mas enfim, reforço o que eu disse no outro comentário. Vou rever o filme, e quando isso for possível, pensar sobre o que você escreveu. No momento, essa é a impressão que eu tenho.
abr.
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